Confesso
que, quando começaram os protestos em São Paulo contra o aumento das passagens
de ônibus e Metrô me posicionei contra estes movimentos que param cidades e
prejudicam milhões de pessoas. Mas, em conversas que tive, em mensagens
recebidas pelas redes sociais e outros "inputs" acerca dos acontecimentos, fui
mudando minha opinião sobre o assunto e, aos poucos entendendo algumas coisas,
mesmo que sejam as mais óbvias.
1)
Estou ficando velho. E como quase todas as pessoas que envelhecem, também perdem
um pouco o viço da luta e busca viver mais em harmonia em menos em conflito.
Mas, isto não está certo, pois viver em harmonia não é isentar-se da luta e sim
engajar-se nela e fazer que ela seja o mais harmônica possível. Por isso fui, a
princípio, contra o movimento que provocou enormes transtornos à cidade. E isto
nos leva ao segundo ponto.
2)
Não há manifestação sem transtorno. Imaginem estes protesto realizados no
Sambódromo??? Teria o mesmo peso??? Teria a mesma cobertura da mídia ou a mesma
repercussão??? Claro que não. Protestos são para incomodar o poder público e as
pessoas ao redor para que se posicionem. Ou contra ou a favor, não importa. Mas,
por favor, se posicionem. É claro que incomodar é absolutamente diferente de
vandalizar. Que houve excessos de todos os lados, não há dúvida, mas é um efeito
colateral. Faz parte de toda espécie de movimento desta ordem. Como diz a música
dos Paralamas do Sucesso:
A
polícia apresenta suas armas, escudos transparentes, cacetetes, capacetes
reluzentes e a determinação de manter tudo em seu lugar.
O
governo apresenta suas armas discurso reticente, novidade inconsistente e a
liberdade cai por terra aos pés de um filme de Godard.
A
cidade apresenta suas armas meninos nos sinais, mendigos pelos cantos e o
espanto está nos olhos de quem vê o monstro a se
criar.
E isto
nos leva ao terceiro ponto
3)
Será que são mesmo os R$ 0,20 que estão em cheque, ou esta foi a gota d'água?
Sim, porque ao longo de décadas estamos vendo o desmando de "autoridades" do
legislativo, executivo e judiciário deitarem e rolarem no dinheiro público com a
mais absoluta impunidade, a ponto de quem foi condenado ao mensalão ainda não
estar cumprindo pena. A má versasão do dinheiro público, promessas não
cumpridas, a saúde, a educação e a segurança pública deteriorada enfim um estado
de coisas que vai corroendo a paciência de um povo que, segundo dizem, tem uma
índole pacífica. O Brasileiro não briga pelos seus direitos, afirmam. Mas será?
Aproveito para citar os versos de Chico Buarque:
Deixe
em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota d'água...
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota d'água...
E
pode ter sido mesmo. Ou pelo menos espero. Porque estamos cheios, eu pelo menos
estou, de ver como as coisas estão e ver o gigante acordar de uma vez ao invés
de ficar
Deitado
eternamente em berço explendido
Ao
som do mar e a luz do céu profundo.
Assumirmos
a seguinte postura que está no mesmo hino;
Mas,
se ergue da justiça a clava forte,
Verás
que um filho teu não foge à luta
Nem
teme quem te adora a própria morte.